Tricolores de sangue grená, a espera acabou. O título veio
antes até do que eu esperava, em Presidente Prudente, longe de casa, sob um sol
escaldante. Mas nunca o Fluminense foi tão Fluminense quanto naquele certame. E
após o jogo, do qual falarei mais adiante, uma miríade de sentimentos e
lembranças tomou-me.
O ano era 1996. Após o ano fabuloso de 1995, a derrota
voluntária do Flamengo para o Bahia na última rodada do campeonato de 1996 nos
rebaixava à segunda divisão, num campeonato marcado por um escândalo de
arbitragem. O campeonato foi invalidado, e todos culparam o Fluminense de modo
incompreensível.
O ano era 1997. A equipe continuava com qualidade
lamentável, tal qual a postura do homem que comandava o futebol do clube, de
triste e nojenta memória. Arbitragens, torcidas, mídia... todos nos perseguiam
pela mentira ventilada no ano anterior. E, assim, caímos, novamente, à série B.
Tanto não tivemos culpa alguma no que ocorrera no passado que disputamos a
divisão inferior.
O ano era 1998. A transição política do Fluminense ainda não
tinha sido concluída, e o time continuava sofrendo em campo. Após uma curta
série B, com 10 jogos para decidir a nossa vida, arbitragens lamentáveis nos
tiraram pontos importantes em dois jogos, e sofremos novo descenso, junto com ¼
dos times da segunda divisão daquele ano.
Nessa altura, eu tinha 18 anos. Era duro, muito duro, ser
tricolor. Mas eu amava as três cores que traduzem tradição e nunca ia
abandoná-las. No ano de 1999, a chegada não só de um patrocínio de verdade, que
andava em falta, mas também de Carlos Alberto Parreira e sua comissão técnica,
além da eleição de David Fischel para presidente, começou a mudar nossos rumos.
Vencemos por obrigação a terceira divisão, e subimos no campo.
O ano era 2000. Mais uma vez fomos apontados como vilões em
mais uma virada de mesa que nada teve a ver conosco, para salvar os traseiros
de outros times ameaçados de queda. Disputamos a competição que aconteceu
naquele ano e nos colocamos muito bem. Tão bem que não haveria sentido
permanecermos em uma divisão inferior no ano seguinte. Aquele terceiro lugar no
módulo mais difícil da João Havelange FOI o nosso acesso, não tenham dúvidas
disso.
Após isso, amigos, o Fluminense voltou ao seu lugar de protagonismo
e relevância.
2001 – Semifinalista do Brasileirão
2002 – Campeão Carioca, Semifinalista do Brasileirão
2005 – Campeão Carioca, Vice-campeão da Copa do Brasil
2007 – Campeão da Copa do Brasil, 4º Lugar no Brasileirão
2008 – Vice-campeão da Copa Libertadores, com a melhor
campanha da primeira fase.
2009 – Vice-campeão da Copa Sul-Americana, Arrancada
inesquecível no Brasileirão
2010 – Tricampeão Brasileiro
2011 – 3º Lugar no Brasileirão
2012 – Campeão Carioca, melhor campanha da primeira fase da
Libertadores, Tetracampeão Brasileiro
Em treze anos, voltamos do fundo do poço para a glória.
Consultem a história de Bahia, Santa Cruz, Paysandu e quaisquer outros times
que tenham sido despromovidos à última divisão nacional (pois é o que era a
terceira divisão, na época), para ver se algum deles regressou em tal glória.
Entre os recentes rebaixados, o Corinthians é o que tem o melhor retrospecto,
pois retornou vencendo uma Copa do Brasil, um Brasileirão e uma Libertadores.
Ah... mas ele não chegou ao fundo do poço. Esse não. Nesse só nós chegamos. E
saímos dele. Quando nos deram como morto e impossível de ser resgatado,
esqueceram que somos um gigante. Bastou alçar as mãos e se puxar para cima.
Nenhum torcedor de time algum sabe o que é ter sua fidelidade testada a esse ponto.
Nem os torcedores de times “grandes”, pois suas crises não chegam a tanto, nem
os torcedores de times “pequenos”, pois estes não puderam provar da glória de
ser um gigante e depois levar um tombo. Só aqueles que viveram os extremos
podem se considerar torcedores completos. E nós temos esse privilégio. Não
lamentemos pelo passado. Regozijemo-nos com ele, pois de onde voltamos, poucos
o fizeram, a maioria não faria, e muitos ainda estão lutando para fazê-lo. Meus
amigos, nós somos a história.
O jogo foi muito bom. O Fluminense jogou, de fato, como campeão,
não tomando conhecimento do Palmeiras, que até apertava, mas não levava perigo
o suficiente. Na verdade, em certo momento, parecia que era o Palmeiras quem
jogava na retranca! Sabíamos que seríamos eficientes em algum momento e, depois
de duas chances com o Fred terem parado tanto nas mãos de Bruno quanto na
trave, o chute de Wellington Nem, após passe de Rafael Sóbis, o bom goleiro
palmeirense não conseguiu segurar, e a bola sobrou para quem sabe o que fazer
com ela. Fred 1 a 0. Com isso, o primeiro tempo terminava. O segundo tempo
começou, e o Fluminense não deu canja para o Palmeiras. Após alguns ataques
mal-sucedidos, encaixamos um bom contra-ataque no qual a bola sobrou para
Rafael Sóbis emendar para o gol. Infelizmente, a arbitragem que todos dizem
interceder a favor do Flu viu um impedimento inexistente – em que pese ser de
difícil visão e na regra conste que, na dúvida, deve-se deixar o lance seguir –
e anulou o nosso gol. Acabou que alguns minutos depois fomos compensados. Fred
apareceu pela direita e cruzou para a área. Maurício Ramos incompreensivelmente
meteu o pé na bola e ela entrou. Gol contra. 2 a 0 Flu. A partir daí, o “Deus
nos acuda” que já tomava conta do Palmeiras passou a ser mais enfático.
As jogadas passaram a ser mais incisivas e as substituições,
ainda que forçadas, surtiram algum efeito. Com uma correria absurda, o Verdão
conseguiu pressionar o Flu, que não estava jogando na retranca e, por isso
mesmo, acabou bobeando na defesa. Após alguns lances de perigo, uma bola
ziguezagueou no meio da área do Flu que nem bola de pinball e sobrou para o
Barcos apenas empurrar pro gol, meio sem jeito. 2 a 1. O gol deu um fôlego novo
pro Palmeiras, que acreditou que podia ganhar a partida e tirar a corda do
pescoço. Assim, após uma falta meio esquisita provocada por Marcos Jr. (que
havia entrado no lugar de Wellington Nem, que saiu com o braço machucado), o
Palmeiras alçou a bola na área e, no meu entender, Diegão hesitou na hora
errada, deixando Patrick cabecear livre pro gol. 2 a 2. Com o empate, o
Palmeiras partiu pro tudo ou nada, e Abel, que já tinha trocado Rafael Sóbis
por Valencia, foi além e colocou Diguinho no time, tirando Bruno. Assim, com
três volantes e Jean jogando na direita, tudo dava a entender que Abel
apostaria na manutenção do empate, como já fizera algumas vezes. Mas... todo
tricolor sentia que não acabaria ali. Ainda mais depois da excepcional defesa
de Cavalieri à queima-roupa, evitando mais um gol verde.
Quando o jogo já se encaminhava para o fim, Jean fez a
jogada que Bruno deveria fazer o campeonato inteiro, avançando pela direita.
Marcos Jr. atraiu a marcação e Fred deteve o passo, já adivinhando o que viria
a seguir. A assistência perfeita de Jean não seria desperdiçada e Fred, de
bate-pronto, mandou pro fundo das redes a bola, e seu nome, para a história.
Três a dois Fluzão. O jogo do Atlético-MG já havia acabado, e eles haviam
empatado. O Grêmio havia vencido, mas não era o bastante. A distância era e
permaneceria em dez pontos, com nove apenas a disputar. Era o gol do
tetracampeonato. O jogo se arrastou mais alguns minutos, apenas para confirmar
o que todo mundo já sabia há algum tempo: O FLUMINENSE É O CAMPEÃO BRASILEIRO
DE 2012! PODE GRITAR, AMIGO. PODE GRITAR AOS QUATRO CANTOS, TRICOLOR DE SANGUE
GRENÁ, QUE O FLUMINENSE É O MELHOR TIME DO BRASIL!
● Verde da Esperança
- Wellington Nem, maravilhoso
campeonato.
- Fred, você assumiu de vez a
posição de ídolo. E será o artilheiro do Brasil.
- Jean, excelente, impecável.
Finalmente lembrado para a Seleção.
- Cavalieri, esse título também
passa por suas mãos.
- Gum Guerreiro, mais uma glória
para a sua coleção!
- Leandro Euzébio, Edinho, Bruno,
Carlinhos, Thiago Neves, Deco, Rafael Sóbis, Wagner, Carleto, Wallace, Higor,
Diguinho, Valencia, Digão e todos os demais do elenco, parabéns, campeões!
● Branco da Paz
- A vitória nas urnas é o futuro do
Fluminense. Já sou sócio-futebol. E você?
- Cinco convocados para a Seleção.
Será que o Mano agora se convenceu?
- A festa do título já está
marcada: Fluminense x Cruzeiro, no Engenhão. Terá mosaico e tudo o que temos
direito!
- Abel diz querer ficar. Espero que
fique. Ano que vem é a América, sem falta.
● Grená do Vigor
- Flapress, faça mais esforço para nos derrubar ano que vem, pois dessa vez não deu!
- Atlético-MG, cuidado para não
ficar na Pré-Libertadores e pagar micaço ano que vem...
- No jogo do Flu, dois erros de
arbitragem contra nós. No jogo do Galo, dois erros de arbitragem a favor do
Atlético. E agora, chorões?
- O Fluminense lidera o novo
Rank da CBF. Chupem, mulambos!
- Os mulambos dizem que ninguém
conhece o Flu fora do Brasil... então o que jornais austríacos e chineses faziam
estampando o Flu em suas páginas?
O Fluminense é tetracampeão brasileiro!
Sobre o autor: Aloisio Soares Senra é professor de
Inglês do Município do Rio de Janeiro desde 2011, e torcedor do Fluminense
desde sempre. Casado, é carioca da gema, escritor, jogador de RPG, entre outras
atividades intelectuais.
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