Tricolores de sangue grená, recuperamos a nossa alma no
Chile. Eu já tinha avisado que a atuação contra o Grêmio havia sido uma
exceção, um acidente de percurso, e que isso não voltaria a acontecer por algum
tempo. E o time, mesmo achincalhado pela Flapress, mesmo desacreditado por
Leovegildos da vida, entrou naquele gramado depositando corpo, alma e coração
na ponta da chuteira. Se vencêssemos o confronto, nos recuperaríamos da derrota
sofrida em casa e colocaríamos uma pressão no Grêmio, além de poder encaminhar
muito bem uma classificação no jogo seguinte, contra o mesmo Huachipato, no
Rio. Se tropeçássemos, poderíamos começar a dar adeus ao sonho. Mas não... isso
não podia acontecer. Porque o campeão voltara.
O time campeão brasileiro de 2012 esteve em campo e mostrou
para todos os tricolores que estamos na briga. O primeiro tempo foi nosso.
Infelizmente, em dois lances capitais, em que Thiago Neves não acreditou na
bobeada do goleiro, e num gol feito que Wellington Nem colocou na trave, a
sorte não ajudou. Fomos impiedosamente castigados pela máxima do futebol de “quem
não faz, leva”, e o Huachipato abriu o placar, após boa jogada do time chileno
e bobeadas de Bruno e Leandro Euzébio, respectivamente, sendo que este último,
em vez de avançar no atacante do time adversário, resolveu olhar para o
bandeirinha, para se certificar de que não havia impedimento. 1 a 0, intervalo.
Aquela era uma injustiça sem tamanho. O Fluminense dominava
as ações, e o Huachipato mal havia ameaçado. No início do segundo tempo era
palpável a reação tricolor. Demoramos ainda algum tempo martelando até, finalmente,
conseguir o justo empate, numa jogada de cinema. Carlinhos cruzou, Fred ajeitou
com o peito para Wellington Nem soltar uma bomba com a perna direita dentro da
área. O goleiro não pôde fazer nada, e o Fluzão empatava ali. Alguns minutos se
passaram e Deco cansou. Wagner o substituiu e mostrou que tem estrela. Após
pouco mais de vinte segundos ele fez o gol da vitória, após jogada em que
Wellington Nem jamais desistiu da bola e brigou até tirá-la do zagueiro
adversário. No finzinho, uma vez que Abel decidiu recuar o time como quase
sempre faz, tomamos um pequeno sufoco, mas conseguimos manter a vitória, como o
time quase sempre faz.
Com esse resultado, o Fluminense agora lidera o grupo 8. Se
houver empate entre Grêmio e Caracas, mantemos a liderança. Foi muito bom ver o
espírito aguerrido no time, pois este é essencial para se aspirar à conquista
da América. Continuo acreditando que chegaremos ao nosso objetivo, por mais
difícil que seja a jornada. E todos nós temos que acreditar. Se a torcida não
abraçar o time, não vai adiantar de nada. A diretoria já fez sua parte. Vamos
lotar o estádio, galera tricolor!
Na última rodada do primeiro turno do Campeonato Carioca não
veio a vitória que esperávamos contra o esforçado Madureira. Há de se elogiar o
bom nível do time suburbano, que aproveitou bem as chances que teve, embora o
placar não tenha falado nada sobre o jogo. O Fluminense, mesmo com reservas,
dominou as ações e teve muito mais volume de jogo. Samuel, que está se
habituando a decidir – e isso é bom – fez dois gols de artilheiro, e Rodrigo,
aquele mesmo volante que jogou no Fluminense, fez também dois gols, um deles
batendo pênalti discutível e outro de cabeça após uma jogada de escanteio,
antecipando-se à zaga, que falhou no lance. Com o empate do Boavista, o Flu
avançou às semifinais, e o faria provavelmente mesmo em caso de derrota do
Botafogo, devido ao saldo. Assim, ficou decidido que enfrentaríamos o Vasco,
que havia penado para vencer o Duque de Caxias por 2 a 1. Devido ao melhor
posicionamento do clube da Colina em seu grupo, ele teria a vantagem do empate
no confronto, uma vez que as regras mudaram para abolir a disputa de pênaltis –
ainda bem!
O jogo, que terminou há poucas horas, foi uma daquelas
partidas que não podem ser completamente traduzidas pelo placar. Inclusive a
palavra “mérito” é capciosa, não pode ser usada literalmente para explicar
nada. Pois o Fluminense precisava ganhar; o Vasco podia empatar. Ambos fizeram
o mesmo número de pontos, mas o Vasco foi líder de seu grupo. Isso fez com que,
durante os quase noventa minutos de jogo, a equipe cruzmaltina jogasse com o
regulamento rigorosamente debaixo do braço. E isso quer dizer jogar
defensivamente para explorar os contra-ataques. O Fluminense, que precisava
vencer, repetiu o cansado time de quarta-feira, exaurido pela batalha no Chile,
e foi pro jogo. Sufocou, martelou, pressionou... mas não conseguiu, durante boa
parte do tempo, furar a defesa do Vasco, que estava muito bem posicionada,
diga-se de passagem. Em duas oportunidades mais claras, Thiago Neves, que está
subindo de produção a olhos vistos, carimbou a trave e, em outra, Anderson
empurrou para as redes após jogada aérea, mas Alessandro evitou que a bola
chegasse lá, defendendo praticamente no reflexo. Ao intervalo, o zero a zero
persistia, dando a vaga ao Vasco.
Então, veio a segunda etapa. Algumas mudanças aconteceram no
decorrer da mesma e definiram o placar da partida. A primeira mudança foi a
troca de Bruno, muito apagado, por Wellington Silva. Ali, a ala direita ficou
exposta, mas precisávamos vencer, então, precisávamos atacar. Cavallieri salvou
o Flu uma vez, em jogada de contra-ataque do Vasco aproveitando essa exposição,
em que quatro jogadores do Vasco atacaram contra apenas dois do Fluminense. Quando
Deco cansou e Wagner entrou em seu lugar, o Vasco abriu o placar. Numa jogada
de contra-ataque que seria bloqueada pelo Flu, Gum errou a medida e deu um
passe torto de cabeça para seu companheiro de zaga, que não conseguiu a posse
da bola. Éder Luis arrancou com a mesma e deu um passe pelo alto à feição para
Bernardo marcar, nas costas de Gum, que acompanhou apenas a trajetória da bola.
Todavia, mesmo com o gol sofrido, o Fluminense surpreendentemente viraria o
jogo em alguns minutos, com gols de Thiago Neves após uma jogada de lateral
para a área que deu certo, e com Wellington Nem, após passe meio sem querer de
Wellington Silva. Mas não era o dia do
Fluminense. Uma alteração que Abel havia feito para tornar o time mais
ofensivo, a substituição de Anderson por Rhayner, agora cobraria seu preço. Sem
Anderson, Edinho foi para a zaga. E em vez de o time recuar, como Abel SEMPRE
faz após conseguir uma vantagem no placar, continuou atacando. E o cansaço
venceu.
Romário e Dakson entraram no Vasco para dar velocidade ao
jogo, e o gol de empate saiu dos pés do garoto, em uma bobeada absurda de Edinho,
após jogada muito similar à do primeiro gol. A seguir, movido pelo desespero, o
Flu atacou com tudo o que lhe restava, deixando um espaço muito grande, maior
ainda do que já existia, entre a defesa e o meio-campo. Como Jean não voltava
para cumprir a função de primeiro volante que provavelmente herdara de Edinho,
não eram raras as vezes em que o contra-ataque do Vasco encaixava. Mas foi numa
jogada em que a defesa havia voltado em linha que o Fluminense recebeu o golpe
derradeiro. Depois de uma bola alçada na área, Gum falhou novamente e deixou
Dedé livre pra cabecear e fechar o placar. Cabe ressaltar que, nas três jogadas
dos gols adversários, ao menos no meu entender, Cavallieri poderia ter saído
nas bolas, ao menos para dificultar a vida dos atacantes, mas não o fez.
Incrivelmente, o placar não diz o que foi o jogo. Na verdade,
acho que nenhum placar faria justiça verdadeira ao que foi a partida. É difícil
falar em “merecimento”, uma vez que ambos os times fizeram uma grande partida,
se doaram e foram fiéis às propostas que levaram ao gramado. É claro, foi
vencedor aquele que foi mais eficiente nas finalizações, o Vasco, mas não se
pode pensar levianamente a respeito da atuação do Fluminense. O Vasco não foi
amplamente superior. Sequer foi superior. Aproveitou-se de erros e matou o jogo
no contragolpe, como já cansamos de ver times pequenos fazerem com grandes, e
até mesmo como o Flu muitas vezes já fez, no ano passado, quando tinha a
vantagem no placar. Então, por mais estranho que pareça, estou confiante com a
atuação de hoje. Obviamente, não estou tranqüilo quanto aos erros da defesa,
mas posicionamento é algo que pode ser treinado e corrigido, e todos os atletas
têm maus dias. Mas jogamos com garra, com raça, criando jogadas, finalizando e
nunca desistindo. E é esse Fluminense vibrante que quero ver na quarta-feira
próxima, contra o Huachipato.
Ao Vasco, desejo sorte. Torçam para que a final seja com o
Botafogo, pois, além de poder manter a proposta de jogo que foi bem-sucedida,
uma vez que terão a vantagem do empate. Caso seja o esgoto da Gávea seu
adversário, a vantagem se inverte e tudo o que fizeram contra o Fluminense não
será o suficiente. Parabéns pela vitória de hoje.
● Verde da Esperança
- O Fluminense fez uma boa
exibição contra o Huachipato e venceu. O Fluminense fez uma ótima exibição
contra o Vasco e perdeu. Coisas do futebol. Bola pra frente.
- Thiago Neves fez duas boas
partidas em sequência. Hora de engatar a terceira.
- Wellington Nem tem sido
decisivo. Que quarta-feira ele seja mais uma vez.
- Carlinhos esteve bem hoje. É
difícil acreditar que estou escrevendo isso.
- Bola dentro da diretora em
baixar o preço dos ingressos para a Libertadores e dar cortesia (ingresso
grátis!) aos sócios. Hora da torcida comparecer em peso!
● Branco da Paz
- As cornetas estão em polvorosa na
torcida do Fluzão... bastou perder do Vasco e todo mundo já esqueceu a vitória
contra os chilenos...
- Como eu tinha dito antes, cair na
onda da mídia não dá em nada. De lanterna passamos a líderes do nosso grupo.
- Vejam pelo lado bom: após o jogo
contra o Huachipato, teremos pelo menos uma semana de descanso para o time se
recuperar, treinar e os zagueiros tentarem ao menos se entrosar defensivamente.
Não dá mais pra tomarmos esse caminhão de gols...
- Achei a punição de o Corinthians
jogar a Libertadores sem torcida acertada, mas e se isso se tornar uma “vantagem”?
Os times que jogarão contra ele não estão acostumados a jogar em estádios
vazios...
● Grená do Vigor
- Desde que beijou aquela moça,
Fredão não põe mais a bola na rede. Será uruca? Precisamos de você, Fred!
- Cavallieri, quando a bola
cruzar a área perto de você, grite para os zagueiros “é minha!” e saia pra
catá-la. Você é alto. A bola tem que ser SEMPRE sua.
- Edinho, why?
- Gum, guerreiro, why?
- Bruno, why?
- Isso porque tínhamos zagueiros
para seis anos... no meio do ano, além do Conca, temos que trazer um zagueiro
de ponta. É urgente...
- Abel, tudo bem que você
precisa manter a moral dos caras em alta, mas essa parada de toda hora elogiar
JÁ DEU. Se não tem o que falar, não fala nada. Quando chegar na hora da
reapresentação, PAGA ESPORRO EM GERAL E PRONTO. Eles não são crianças que têm
que ser mimadas. Ganham – e muito bem – para jogar direito!
Vamos em busca da América! Acredita, Fluzão!
Sobre o autor: Aloisio Soares Senra é professor de
Inglês do Município do Rio de Janeiro desde 2011, e torcedor do Fluminense
desde sempre. Casado, é carioca da gema, escritor, jogador de RPG, entre outras
atividades intelectuais.
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